A aranha- conto 2017

 A Aranha

era uma criatura paciente e desconfiada. Entrava na toca ao menor sinal de perigo, as vezes com passadas longas e demoradas das patas, como se quisesse que os movimentos não fossem percebidos, como uma criança que acorda de madrugada para ver tv passa pelo quarto dos pais.

Eram demorados, os dias e as semanas.

Voltava para o quarto com a pressa de não fazer nada. Em seu canto de parede no banheiro estava a aranha.

"Eu poderia matá-la com um jato de água"

"Eu poderia envenená-la"


Seus vários olhos me encaravam, parálizada, me esperando.

A Aranha era uma criatura paciente.

Não era grande, cabia num dedo. Marrom como café, esquia.

A Aranha era Aranha? Ou a Aranha era seja lá oque for o masculino de aranha?


Deitava-me na cama, como o ritual costumeiro, relembrando do dia que passará, monotono e metonho. O trabalho se tornara quase uma entidade, pairando.

Pouca coisa mudava minha rotina. Uma chuva era o quebra- geloperfeito para a conversa.....

"Não, clichê demais"

Um dia alguém quebrara o gelo.Pouca coisa mudava, ouvir a conversa dos outros era um passatempo perfeito. 

Falava dos filhos e de seus habitos.

"Quando criança eu costumava desenhar criaturas estranhas"

"Mas depois de uma história macabra comecei a pensar que elas cresceriam e me devorariam"


Em meu quarto pequeno via uma ou outra teia.

"de outras aranhas"

Menores, timidas, menos vigilantes, quase apreenssivas.

A Aranha no no canto do banheiro me olhava com seus vários olhos. Já não se escondia tanto, passará a pouco mais de uma falange.

 "Você come os insetos e deixo-te viver. É o nosso trato"

Eu me menganei, sabendo da desonestidade, ciente. 

Haviam mais aranhas naquele lugar, mas elas estavam mais apreenssivas.


Hoje vai chover.

E isso é bom por vários motivos.

Mas a água trás lembranças estranhas.

"Talvez por que ela vem e vai"

Ela te lembra das coisas boas e ruins, e de seus erros. Talvez se plantassemos algo nos dias de sol ficassemos felizes a cada chuva.


"Eu pulei poças e isso foi bom"

"Não me importei em me molhar. Parecia a melhor coisa a se fazer. Não me importei que outra coisa precisace ser feita"


Parecia que duraria. Deixei de olhar para os cantos do banheiro e deitar-me na cama.

Então um dia olhei sem prestar atenção enquanto fazia as necessidades e ela não estava lá.

Olhei mais perdo, quase grudando a face na parede.

"Tem um ovo aqui"



O Ovo

Era pequeno e enrolado em teias, não poderia ser um inseto capturado. Não, não poderia.

Ele não era timido nem menos vigilante, não estava apreenssivo nem desconfiado e certamente não se mexia.

O Ovo era uma criatura paciente.


"Algo está estranho, eu esperava sol hoje"

Mas o trabalho era como uma entidade, e ele sufocava à todos naquele dia. Quase poderia dizer que tinha vida própria.

"como o desenharia? Com tentáculos e dentes? Com olhos vazios  e inesprecivos? Ou como uma sombra de capus ou chapéu? Algo enigmatigo, vazio, profundo, perco-me e me perco no seu fundao, até não der fundo como um saco-sem-fundo, sugando a tudo"


A Aranha voltou, menos desconfiada do que nunca. Como uma mãe desnaturada parecia não olhar pelo Ovo.

O Ovo e a Aranha eram criaturas pacientes.

Me encaravam a cada passo.

"É agradável. Estranhamente agradável"

Teria a Aranha crescido sem que eu percebese? Teria eu negligenciado suas investidas? Ou se tornará como a cor das paredes e meu próprio respirar?



"Quando criança eu costumava desenhar criaturas estranhas"

"Mas depois de uma história macabra comecei a pensar que elas cresceriam e me devorariam"



Nunca vou saber se entidade cresceu demais, se eu mesmo dei cabo ao seu sufocamento.Mas sei que assim como a Aranha os monstros cresceram.

A Aranha era paciente. E como o bom paciente caçador ela se banquedeou pelos descuidos de sua presa.

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